A Bíblia e a Fé da Igreja
Ler a Bíblia dentro da Igreja, com a fé da Igreja
Dando continuidade ao nosso curso bíblico, retomamos nesta aula o último ponto apresentado anteriormente: a importância de ler a Bíblia dentro da Igreja, com a fé da Igreja. Essa é uma verdade fundamental, muitas vezes esquecida ou mesmo rejeitada, mas absolutamente essencial para compreendermos e interpretarmos corretamente a Palavra de Deus.
Iniciamos com oracão, pedindo ao Espírito Santo que nos conduza neste estudo e à Virgem Maria que interceda por nós, para que possamos tirar todos os frutos desta aula. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
A Bíblia, especialmente o Novo Testamento, nasceu no seio da Igreja. Isso não é uma opinião, é um fato histórico. Os Evangelhos, por exemplo, surgiram da necessidade pastoral dos apóstolos. Eles fundavam comunidades e, com o crescimento da Igreja, tornou-se necessário deixar por escrito os ensinamentos que até então eram transmitidos oralmente.
Como o transporte era precário, os apóstolos nem sempre conseguiam retornar às comunidades que fundavam. Por isso, começaram a escrever cartas e registros para instruir os fiéis. Esses textos eram lidos nas celebrações, que já naquela época tinham estrutura semelhante à Santa Missa atual.
Os Evangelhos foram então organizados, não como relatos privados ou obras individuais, mas para serem proclamados na liturgia da Igreja. Nasceram para serem lidos na Missa, e por isso são inseparáveis do contexto eclesial.
As cartas de São Paulo têm o mesmo caráter. Foram escritas para resolver problemas concretos das comunidades cristãs: divisões, heresias, desânimo, falsas esperanças. Cada epístola foi escrita a partir de uma necessidade pastoral.
O Antigo Testamento também está profundamente unido à Igreja. O Catecismo (n. 128) ensina que a Igreja, desde os tempos apostólicos, sempre leu o Antigo Testamento à luz de Cristo.
Essa leitura chama-se tipologia: figuras, acontecimentos e pessoas do Antigo Testamento prefiguram o que se realiza plenamente em Cristo. Assim, a leitura da Bíblia deve estar sempre inserida na tradição viva da Igreja.
A Revelação de Deus se fundamenta em três pilares inseparáveis:
Sagrada Escritura
Sagrada Tradição
Sagrado Magistério
Esses três estão intimamente unidos. O Catecismo (n. 95) afirma que nenhum deles se sustenta isoladamente. É a Igreja, iluminada pelo Espírito Santo, que transmite fielmente a Revelação.
Jesus não deixou nada escrito. Ele confiou tudo aos apóstolos: a pregação oral, a formação da comunidade, a interpretação autêutentica do Evangelho. A Escritura surgiu dessa transmissão viva, da Tradição apostólica.
Jesus prometeu que o Espírito Santo guiaria a Igreja. Em João 14,26, Ele diz:
“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.”
Essa promessa se realiza na vida e na pregação da Igreja. É o mesmo Espírito que inspirou os autores sagrados que assiste o Magistério na interpretação da Escritura.
Foi a Igreja quem, com autoridade, discerniu quais livros eram inspirados. Em meio a dezenas de escritos apócrifos (como o Evangelho de Tomé ou de Maria Madalena), a Igreja, guiada pelo Espírito Santo, definiu o cânon bíblico nos concílios de Hipona e Cartago (século IV).
Aceitar a Bíblia é aceitar a autoridade da Igreja. Como dizia Santo Agostinho:
“Eu não acreditaria no Evangelho, se não fosse movido pela autoridade da Igreja católica.”
Martinho Lutero, no século XVI, rompe com essa unidade. Ele defende que cada indivíduo pode interpretar a Escritura como quiser, sem o Magistério nem a Tradição. Esse princípio gerou o que vemos hoje: milhares de interpretações divergentes, mais de 30 mil denominações protestantes.
A interpretação pessoal, desligada da Igreja, leva à fragmentação da fé. A unidade da Palavra se perde.
A acusação de que a Igreja “escondeu a Bíblia” é falsa. Antes da imprensa, copiar a Bíblia era caríssimo. Era preciso couro de 300 animais, anos de trabalho e conhecimento técnico. Uma Bíblia podia custar o equivalente a 10 anos de salário.
Monges copistas, especialmente beneditinos, dedicaram a vida para conservar os textos sagrados. Muitos cristãos morreram martirizados por se recusarem a entregar os livros sagrados durante as perseguições romanas.
Foi a Igreja quem guardou, copiou e transmitiu a Sagrada Escritura. Lutero apenas usou a Bíblia que a Igreja lhe entregou.
Ler a Bíblia corretamente exige:
União com o Magistério da Igreja
Escuta da Sagrada Tradição
Leitura fiel da Sagrada Escritura
Esses três elementos formam a Revelação. Fora deles, a interpretação corre sério risco de erro e heresia. A fé católica se mantém una porque tem uma regula fidei, uma regra de fé, transmitida pela Igreja.
O que é o kit básico de um católico?
A Bíblia, Palavra de Deus.
O Catecismo, interpretação fiel e segura da fé.
A Bíblia foi escrita dentro da Igreja, para a Igreja e pela Igreja. É dentro dela que devemos lê-la, com a fé da Igreja, sustentados pela Tradição e guiados pelo Magistério. Fora disso, corre-se o risco de trair o verdadeiro espírito da Palavra de Deus.
A Bíblia não caiu do céu de zíper e tudo. Foi confiada à Igreja, e é a Igreja quem nos a entrega com fidelidade.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
Compartilhe esta aula com outros, para que mais pessoas possam compreender a maravilha que é ler a Bíblia com a Igreja. Deus abençoe você!