Aula 3 – O Antigo Testamento
Dando continuidade ao nosso curso introdutório sobre a Sagrada Escritura, nesta aula voltamos nosso olhar para o Antigo Testamento. Trata-se de um mergulho inicial, não aprofundado em cada livro ou personagem, mas de uma visão panorâmica, espiritual, teológica e pedagógica do que Deus nos revelou através de Sua Palavra antes da plenitude dos tempos, que culminaria na encarnação de Cristo.
Rezemos ao Espírito Santo e pedimos a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, São Padre Pio e Santa Teresinha para que este conteúdo toque o nosso coração e fortaleça a nossa fé.
O Antigo Testamento é a primeira grande parte da Bíblia, composta por 46 livros na versão católica. Ele narra:
A criação do mundo;
O início da história da humanidade;
A eleição de Abraão e a formação do povo de Deus;
As alianças sucessivas que Deus estabelece com esse povo;
A espera messiânica.
Tudo isso com um único grande objetivo: preparar a vinda do Salvador. É uma pedagogia divina que conduz, forma, corrige, consola e molda espiritualmente a humanidade para o dia em que Deus Se fará homem. Por isso, o Antigo Testamento não pode ser lido como um livro isolado, mas como parte de um todo, iluminado plenamente em Cristo.
Deus não revelou tudo de uma vez. Ele se revelou aos poucos, como um pai que educa um filho, respeitando o tempo, a maturidade e as condições culturais e históricas da humanidade.
Essa pedagogia explica porque algumas passagens do Antigo Testamento podem parecer estranhas ou “duras” aos olhos modernos ou à luz do Evangelho. É preciso ter em mente que Deus entrou numa realidade profundamente pagã, como na época de Abraão (sacrifícios humanos, idolatria, violência ritual etc.), e começou ali uma jornada de transformação.
Como alguém doente na UTI que, antes de correr uma maratona, precisa passar por um processo de reabilitação, assim Deus foi conduzindo Seu povo, passo a passo, rumo à plenitude da revelação.
A aliança é o fio condutor do Antigo Testamento. Tudo gira em torno do desejo de Deus de restaurar a comunhão com o homem perdida pelo pecado original. Desde Abraão, Deus chama o homem de volta para si. Em cada aliança (com Noé, Abraão, Moisés, Davi...), Deus prepara o coração humano para o cumprimento definitivo da nova e eterna aliança em Cristo.
A fidelidade do povo à aliança traz vida e bênçãos; a infidelidade, por sua vez, leva à queda, ao exílio e à morte espiritual.
A Terra Prometida (Canaã) é símbolo da fidelidade de Deus. Era um escândalo no mundo pagão afirmar que havia um único Deus invisível e verdadeiro. Por isso, Abraão precisava de um lugar onde essa fé pudesse ser vivida de forma pura.
A Terra torna-se o sinal visível da promessa divina. E a perda da Terra, em tempos de exílio, é sempre um sinal de infidelidade do povo à aliança.
A Bíblia não é um livro único, mas uma biblioteca com diversos gêneros: histórias, leis, poesias, profecias, provérbios, orações, narrativas apocalípticas etc. Por isso, nem tudo deve ser interpretado literalmente.
Gênesis, por exemplo, não é um tratado científico, mas uma narrativa teológica e simbólica.
Livros como Jó ou Daniel contêm linguagem poética ou apocalíptica.
O importante é identificar as verdades de fé e a mensagem teológica que cada texto transmite.
A teologia nos ensina que o Antigo Testamento está cheio de “tipos” ou “figuras” de Cristo. São eventos, pessoas ou símbolos que prefiguram realidades do Novo Testamento.
O cordeiro pascal do Êxodo é figura de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus.
A serpente de bronze erguida por Moisés prefigura a cruz redentora.
Isaac, subindo o monte com a lenha às costas, é imagem de Jesus indo ao Calvário.
Como ensina o Catecismo, toda leitura bíblica deve ser ao mesmo tempo literal e espiritual.
📖 Pentateuco (Torá)
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
Contam desde a criação até a formação do povo, a libertação do Egito e a entrega da Lei.
Sentido espiritual: Deus é Criador, Libertador e Mestre.
🛡️ Livros Históricos
De Josué até os Macabeus.
Narram a história concreta do povo: conquistas, juízes, reis, cismas, exílios, reconstrução.
Ensinamento: Fidelidade gera vida, infidelidade leva à queda.
🕊️ Livros Sapienciais
Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (Sirácida).
São fruto da oração, reflexão e experiência espiritual do povo.
Contêm belíssimos hinos, como o Salmo 50 (de Davi após seu arrependimento).
🔥 Profetas
Profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel…
Profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Jonas, Miqueias etc.
Voz de Deus nas crises: corrigem, consolam e preparam o povo para o Messias.
Toda essa história — alianças, reis, quedas, exílios, guerras, promessas — culmina numa gruta em Belém. O esperado Messias, prometido desde Gênesis 3, não chega com pompa e poder, mas com humildade e mansidão.
O Rei dos Reis nasce entre panos, numa manjedoura, encerrando 1800 anos de preparação com um gesto de amor absoluto.
E é por isso que, ao compreendermos o Antigo Testamento, compreendemos melhor a grandeza da fé católica. Tudo nos prepara para Cristo, o centro da história, o ponto de encontro entre o Céu e a Terra.
O Antigo Testamento é uma longa caminhada rumo ao Cristo. É uma escola de fé, esperança e conversão. Que possamos ler essa parte das Escrituras com olhos de quem busca entender o amor de Deus que age na história, que educa, forma, repreende e salva.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
📘 Na próxima aula: veremos a chegada do Messias e a estrutura do Novo Testamento