A Primeira Missa
Estamos percorrendo este caminho, falando sobre a missa e hoje queremos dar mais um passo. Na aula passada, falamos sobre a história do sacrifício e Jesus, que veio oferecer o seu verdadeiro sacrifício. Neste capitulo, continuaremos percorrendo o caminho do sacrifício de Jesus, começando a falar sobre a história da Santa Missa.
Recapitulando, o sacrifício de Cristo foi um sacrifício livre, onde Jesus se entregou voluntariamente. É preciso deixar claro que Jesus não foi vítima de um crime. Algumas pessoas dizem que Jesus foi vítima de um crime terrível cometido pelo império romano, mas usou desse crime para realizar o sacrifício redentor de Jesus. Jesus estava ciente de tudo que estava acontecendo e se entregou livremente. Basta lembrar que quando os soldados chegaram até Jesus e Ele perguntou: "A quem procuras?", eles responderam: "Procuramos o Messias". Jesus falou: "Eu sou" e eles caíram por terra. Uma palavra de Jesus derrubou os soldados. Jesus poderia fazer qualquer coisa, pois Ele é Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro bastava uma palavra Dele para vencer todos os soldados romanos.
Ele se entregou livremente, dizendo que ninguém teria poder sobre Ele se não fosse dado do alto. Jesus permitiu-se ser entregue livremente. Essa entrega livre é o sacrifício perfeito que Ele oferece ao Pai. Não é como os animais, que eram conduzidos à força para o sacrifício. Jesus se doou e quis se entregar pela nossa salvação. Isso precisa estar claro.
O sacrifício de Jesus é perfeito, com quatro finalidades: adoração, ação de graças, intercessão e reparação dos nossos pecados. Ele adorou ao Pai, oferecendo ações de graças e intercedeu por nós, oferecendo um sacrifício de reparação, por isso Ele é um sacrifício perfeito.
Jesus precisava que esse sacrifício chegasse até nós para que pudéssemos participar dele. Aqui começa a história da missa. Na noite em que Jesus seria entregue, Ele celebrou a Última Ceia, onde instituiu a Eucaristia. A Última Ceia está intimamente ligada ao sacrifício de Jesus na Cruz.
O Papa Bento XVI disse: "Pode-se dizer que a teologia da Cruz é teologia eucarística e vice-versa. Sem a Cruz, a Eucaristia permaneceria em puro ritual. Sem a Eucaristia, a Cruz seria somente um cruel evento profano." A Última Ceia antecipa o sacrifício que Jesus viveria na Cruz. Scott Hahn, em seu livro "O Banquete do Cordeiro", descreve como Jesus na Última Ceia falou: "Este pão é o meu corpo que entregarei amanhã na Cruz pela salvação do mundo. Este vinho é o meu sangue que derramarei na Cruz pela redenção de todos."
Jesus consagrou o pão e o vinho, corpo e sangue separados, simbolizando o sacrifício. A Cruz estava na Última Ceia e a Última Ceia estava na Cruz. Na Última Ceia, Jesus instituiu a Eucaristia, prefigurando seu sacrifício na Cruz.
Para que os frutos deste sacrificio oferecido por Jesus, chegasse até nós Ele ordenou os apóstolos na Última Ceia, dizendo "fazei isto em memória de mim", mandando-os repetir o gesto, pois a Eucaristia é a presentificação do sacrifício redentor de Jesus. Em cada Consagração Eucarística, a Cruz se faz presente.
As palavras de Jesus são constitutivas. Na Última Ceia, Ele estava constituindo o sacerdócio católico e a Eucaristia. Celebrada a primeira missa na Última Ceia, Ele deixou este memorial para nós. Quando recordamos a paixão de Jesus na celebração da missa, o sacrifício redentor se torna atual.
Na missa, Jesus oferece novamente seu corpo e sangue. As ações de Deus são eternas, não presas no tempo. Na consagração, Jesus não sofre ou derrama sangue novamente, mas atualiza seu sacrifício de maneira incruenta. O sacrifício de Jesus é perfeito, eterno e se atualiza em cada consagração.
Na missa, Jesus intercede por nós, oferecendo ao Pai um sacrifício de adoração, e nós participando desse sacrifício, recebemos todas as bênçãos e graças que Deus derrama sobre Jesus.
Desde a Última Ceia, a missa nunca deixou de ser celebrada. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, descreve a celebração da Eucaristia no primeiro século: “Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”. Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse cálice.” (1Cor 11,26-28),
São Paulo esta nos mostrando que a missa já era uma prática da igreja primitiva. Ao longo dos séculos, a liturgia se desenvolveu, mas a essência da Eucaristia permaneceu a mesma.
Existe também algo muito simbólico nos alimentos usados por Jesus na última ceia e que é usado em cada Missa. Pão e o vinho são alimentos apropriados para a Eucaristia, representando a reunião dos cristãos e o sacrifício de Cristo. O pão, feito de muitos grãos de trigo, e o vinho, de muitas uvas, simbolizam a união dos fiéis e o sacrifício de Jesus, pois para que o pão se tornasse pão e vinho se tornasse vinho, os vários grãos de trigo precisam serem esmagados, assim como cristo foi esmagado no calvário.
Além disso na última ceia, onde Jesus lavou os pés dos discípulos, também simboliza a Eucaristia. Naquela época, lavar os pés era um gesto de escravidão. Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, mostrou sua entrega e serviço e por esta entrega tornou os apóstolos abetos para participarem do banquete. Na Eucaristia, Ele se entrega a nós e nos tornar aptos para participar deste banquete celeste.
A missa, desde a primeira celebração na Última Ceia, é a presentificação do sacrifício redentor de Jesus. A igreja, obediente ao mandato de Cristo, continua a celebrar a Eucaristia, perpetuando o sacrifício de Jesus até a sua segunda vinda.
É muito bonito perceber que a nossa fé é baseada no que Jesus deixou para a igreja. A Eucaristia é o centro da nossa fé, um mistério profundo que continuamos a celebrar em cada missa.
**Referências**
- Bento XVI, Papa. *Teologia da Cruz e Teologia Eucarística.*
- Hahn, Scott. *O Banquete do Cordeiro: A Missa como Céu na Terra.*
- Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, 11:23-26.