Dando sequência ao curso bíblico, veremos agora o livro do Apocalipse.
O livro exigiria um curso inteiro, mas será apresentado aqui em uma aula.
Importante: foi escrito em um gênero literário específico — o apocalíptico — que usa figuras, guerras e catástrofes para trazer um ensinamento espiritual.
Ponto central: o Apocalipse não fala simplesmente do fim dos tempos; fala principalmente da luta do bem contra o mal e da perseverança dos cristãos. Em toda a história da Igreja, essa luta se faz presente.
O “milênio” (mil anos) não é literal: indica o tempo da Igreja, o tempo da misericórdia de Deus, cujo término só o Senhor sabe.
Chave de leitura: ser fiel e olhar as coisas de cima para baixo — a partir da ótica espiritual, do Céu e da vida eterna, onde Cristo está e nos espera.
Objetivo do autor (São João): consolar, não amedrontar. Por isso, o Apocalipse é livro da esperança e da consolação, escrito para uma Igreja perseguida.
Constante ao longo do livro: Deus permite provações, mas prepara algo maior para seus filhos — por isso o livro alterna dor/sofrimento/batalha com esperança.
Exemplo de como o autor corrige e consola:
Éfeso – Ap 2,4–5: “Tenho contra ti: abandonaste o teu primeiro amor. Lembra‑te de onde caíste, arrepende‑te e pratica as obras do início…”.
Promessa: “Ao vencedor darei de comer da árvore da vida no paraíso de Deus.”
Esmirna – Ap 2,10: “Não tenhais medo do que haveis de sofrer… Sê fiel até a morte e eu te darei a coroa da vida.”
Em todas as cartas aparece o mesmo movimento: denúncia/exortação → promessa de vida eterna.
Transição para a liturgia celeste: consolo para uma Igreja que sofre.
Porta aberta no céu (Ap 4,1): acesso ao mistério celeste.
“Em espírito” (Ap 4,2): visão espiritual (contexto de exílio em Patmos; silêncio e oração).
Trono e pedras (jaspe/cornalina) e arco‑íris (Ap 4,2–3):
Santidadade e justiça de Deus;
Arco‑íris: aliança envolvendo o trono (misericórdia).
24 anciãos com vestes brancas e coroas (Ap 4,4):
Antiga + Nova Aliança (12 + 12);
Branco: purificação; coroa: perseverança/martírio.
Relâmpagos e trovões (Ap 4,5): lembram teofania (manifestação de Deus).
Sete lâmpadas/sete Espíritos (Ap 4,5): plenitude (o número 7 indica perfeição e plenitude).
Mar de vidro/cristal (Ap 4,6): o caos (mar) agora pacificado diante de Deus.
Quatro seres vivos com “olhos” e “asas” (Ap 4,6–8):
Olhos: sabedoria; asas: prontidão para louvar;
Representam a totalidade da criação (e tradicionalmente também Evangelhos).
Cântico: “Santo, Santo, Santo…” (Ap 4,8): louvor perene no Céu; a liturgia da terra participa deste louvor.
Anciãos depõem as coroas (Ap 4,9–11): reconhecimento de que tudo é graça; adoração plena.
Ap 5,6–7: o Cordeiro de pé como que imolado (Jesus ressuscitado e vencedor) no centro: “sete chifres e sete olhos” (força, sabedoria, plenitude do Espírito).
Método: ler os símbolos buscando a mensagem espiritual que apontam (não caricaturas literais).
Dragão: o mal em pessoa; luta do bem x mal.
Duas bestas:
uma de caráter religioso (poder que seduz; heresias),
outra de caráter tirânico/político (poder que persegue os cristãos).
Número 666: símbolo do anticristo — a imperfeição tripla (quem tenta ser Deus e não consegue); referências a perseguições (ex.: imperadores como Nero/Domiciano).
Pragas/juízos: pedagogia de chamado à conversão (alerta seguido de esperança).
Queda da Babilônia (Ap 17–18): civilização sem Deus; para os cristãos da época, Roma.
Ap 2–3: sete cartas às igrejas.
Ap 4–5: liturgia celeste.
Ap 6–7: abertura dos sete selos (domínio do Cordeiro; sofrimento, fé e esperança).
Ap 8–11: trombetas e juramentos (ação de Deus na história; purificação).
Ap 12–20: grande conflito (mulher x dragão; bestas x Cordeiro e seus fiéis).
Mulher de Ap 12: Virgem Maria e, ao mesmo tempo, figura da Igreja.
Ap 21–22: Nova Jerusalém; vitória do Cordeiro.
Linguagem simbólica “esconde” a mensagem em contexto de perseguição: protege os cristãos e permite que o texto circule sem acirrar a repressão.
Penúltimo versículo: “Sim, eu venho em breve.”
Resposta da Igreja: “Amém. Vem, Senhor Jesus.”
O livro é difícil (cheio de símbolos), mas lindo; requer estudo mais lento e material de apoio para evitar confusões.