“Creio” — não é uma palavra, é uma entrega. É o abandono de si para aderir ao Deus vivo, fonte de todo ser, de toda verdade e de toda salvação.
Nesta etapa do nosso itinerário, adentramos o primeiro pilar do Catecismo da Igreja: o Símbolo da Fé. Este conteúdo é o fundamento de tudo o que o católico deve conhecer, guardar no coração e ensinar. Ao recitar o Credo, o cristão se reconhece como membro de um corpo maior, vinculado à fé de séculos, professando verdades eternas que moldam a alma para a vida eterna.
Mas não se trata apenas de “conhecer”. A profissão de fé é o primeiro ato espiritual necessário para a salvação. Toda a pedagogia de Deus — a Revelação, a Encarnação, os Sacramentos — exige uma única resposta inicial: fé. Fé como entrega. Fé como consentimento. Fé como ato interior de adoração.
Logo nas primeiras palavras, professamos aquilo que é o princípio de todas as coisas: Deus é. E mais: Deus é Pai.
Chamar Deus de Pai já supõe um dom: a filiação divina recebida por meio do Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus não é Pai por analogia sentimental; Ele é Pai porque gera o Filho desde toda a eternidade, e nós nos tornamos filhos no Filho, por adoção, no Batismo.
Dizer que Ele é “Todo-Poderoso” é reconhecer Sua soberania absoluta — e ao mesmo tempo é motivo de consolação. Porque o mesmo Deus que tudo pode é aquele que nos ama e nos adotou. O temor reverente se une ao amor filial.
Ao acrescentar “Criador do céu e da terra”, declaramos que o universo não é fruto do acaso, mas de uma inteligência e de um amor eternos. Tudo vem de Deus. Nada escapa à sua providência. O mundo material e espiritual, anjos e homens, o visível e o invisível, tudo existe por Sua palavra criadora.
“No princípio, Deus criou…” (Gn 1,1).
“E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” (Gn 1,31).
Aqui professamos o mistério central da fé cristã: a Encarnação do Verbo.
Jesus não é apenas um mestre, nem um profeta. É o Filho eterno de Deus, da mesma substância do Pai. Seu nome — “Jesus” — significa “Deus salva”, e “Cristo” é o título que o consagra como o Messias, o Ungido.
A frase “nosso Senhor” indica que Ele não é apenas Salvador, mas soberano sobre toda a realidade. Aceitar Jesus como Senhor implica submeter a Ele nossa vida, vontade, decisões, afetos. Quem verdadeiramente diz “Jesus é o Senhor” não vive mais para si, mas para Ele (cf. Gl 2,20).
Esta confissão não é apenas pessoal, é eclesial. É a fé da Igreja. Uma fé que se expressa, se guarda e se transmite. Por isso, desde os primeiros séculos, a recitação do Credo era critério de pertença e iniciação na vida cristã.
Entramos aqui no mistério sublime da Encarnação: o Verbo se fez carne (Jo 1,14).
Este artigo expressa que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A união entre sua divindade e sua humanidade se realiza naquilo que a Igreja chama de união hipostática — a união da natureza divina e da natureza humana numa única Pessoa: o Filho eterno.
O Espírito Santo é o agente divino da concepção; Maria é a Mãe escolhida desde toda a eternidade, a “cheia de graça”. Nela, o Criador entra na criação, e o Eterno se faz carne. Por isso, a Virgem Maria ocupa lugar singular na história da salvação: ela é a Porta pela qual Deus entra no mundo.
“Aquele que o mundo não podia conter se fez conter no ventre de uma mulher.” — Santo Agostinho
Este nascimento virginal não é detalhe periférico, mas sinal da origem divina do Filho, e confirmação de que a Encarnação não foi fruto da carne, mas da graça.
Aqui, o Credo mergulha no mistério da Redenção. Deus não nos salvou à distância, mas no mais profundo sofrimento humano. E não simbolicamente: em um tempo, lugar e evento históricos, diante de um governador romano chamado Pôncio Pilatos.
A cruz não é um fracasso: é o trono do Rei. É o altar do sacrifício perfeito. Nela se unem a misericórdia infinita de Deus, que entrega o Filho pelos pecadores, e a justiça perfeita, pois um homem — novo Adão — oferece a Deus o amor e a obediência que o antigo Adão havia negado.
“A cruz é o preço que o amor pagou para que o pecador pudesse voltar ao Pai sem que a justiça fosse negada.” — (inspirado por Fulton Sheen)
Ao morrer, Jesus desce até os extremos da condição humana — sofre, morre, é sepultado. Mas, como grão lançado à terra, sua morte é fecunda, e seu sepulcro é como um útero: é da morte de Cristo que nasce a nova humanidade.
Conclusão
Este primeiro mergulho no Credo já nos mostra que a fé não é um sentimento. É uma resposta racional, humilde e total ao Deus que se revela. Por isso, o catequista precisa conhecer, viver e ensinar esse Credo com clareza, profundidade e coerência.
Cada frase do Credo carrega o sangue dos mártires, a sabedoria dos santos, e o selo da autoridade da Igreja. Recitá-lo é já um ato de combate e testemunho. E como bem afirmou um autor:
“Diga-me o que crês, e te direi quem és.”
Na próxima aula, daremos continuidade aos artigos da fé, aprofundando o mistério da Ressurreição, Ascensão, o Espírito Santo, a Igreja, a comunhão dos santos, e o Juízo final. Sigamos com confiança.