Aula 5: Maria e a Cruz | Para Conhecer e Amar Maria
Nesta aula iremos ver Maria como nossa corredentora dentro do mistério do oferecimento de Cristo na Cruz.
Nesta aula iremos ver Maria como nossa corredentora dentro do mistério do oferecimento de Cristo na Cruz.
Depois te ter recordado a presença de Maria e das outras mulheres junto da Cruz do Senhor, São João refere: “Ao ver Sua Mãe e junto d’Ela o discípulo que Ele amava, Jesus disse à Sua mãe:” ‘Mulher, eis aí o teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí a tua Mãe’ (Jo.19, 26-27).
Essas palavras, particularmente comoventes, constituem uma “cena de revelação”: revelam os profundos sentimentos de Cristo moribundo; e encerram uma grande riqueza de significados para a fé e a espiritualidade cristã. Com efeito, ao dirigir-se, no fim da Sua vida terrena, à Mãe e ao discípulo que Ele amava, o Messias crucificado estabelece novas relações de amor entre Maria e os cristãos.
O papel de Maria na história da salvação
Interpretadas, às vezes, unicamente como manifestação da piedade filial de Jesus para com a Mãe, confiada para o futuro ao discípulo predileto, essas expressões vão muito além da necessidade de resolver um problema familiar. De fato, a consideração atenta do texto, confirmada pela interpretação de muito padres e pelo comum sentir da Igreja, põe-nos diante, na dúplice entrega de Jesus, de um dos fatos mais relevantes para compreender o papel da Virgem na história da salvação.
As palavras de Jesus na Cruz, na realidade, revelam que o Seu primeiro intento não é o de confiar a Mãe a João, mas de entregar o discípulo à Maria, atribuindo-Lhe uma nova missão materna. O termo “mulher”, além disso, usado por Jesus também nas bodas de Caná, para conduzir Maria a uma nova dimensão do seu ser Mãe, mostra que as palavras do Salvador não são frutos de um simples sentimento de afeto filial, mas têm em vista pôr-se num plano mais elevado.
A morte de Jesus, embora tenha causado o máximo sofrimento à Maria, não muda por si mesmo as suas habituais condições de vida, com efeito, abandonando Nazaré para iniciar a Sua vida pública, Jesus tinha já deixado sozinha a Mãe. Além disso, a presença junto da Cruz da Sua parente, Maria de Cléofas, permite supor que, a Virgem tivesse boas relações com a família e os parentes, junto dos quais poderia encontrar acolhimento, depois da morte do Filho.
Maria é a nossa mãe
As palavras de Jesus, ao contrário, assumem o seu mais autêntico significado no interior da Sua missão salvadora. Pronunciadas no momento do sacrifício redentor, elas haurem precisamente desta circunstância sublime, o seu valor mais alto. O evangelista, com efeito, depois das expressões de Jesus à Mãe, refere um significado incisivo: “Jesus, sabendo que tudo estava consumado (…)” (Jo. 19, 28), quase a querer ressaltar que, Ele levou a termo o Seu sacrifício, com a entrega da Mãe na obra da salvação.
A realidade posta em ato pelas palavras de Jesus, isto é, a nova maternidade de Maria em relação ao discípulo, constitui um ulterior sinal do grande amor, que levou Jesus a oferecer a vida por todos os homens. No Calvário, esse amor manifesta-se ao dar uma Mãe, a Sua, que se torna, assim também, a nossa Mãe.
É preciso recordar que, segundo a tradição, João é aquele que, de fato, a Virgem reconheceu como o Seu filho; mas esse privilégio foi interpretado pelo povo cristão, desde o início, como sinal de uma geração espiritual que se refere à humanidade inteira.
Maternidade de Maria
A maternidade universal de Maria, a “Mulher” da bodas de Caná e do Calvário, recorda Eva, “Mãe de todos os viventes” (Gn. 3, 20). Contudo, enquanto esta contribuíra para a entrada do pecado no mundo, a nova Eva, Maria, coopera para o evento salvífico da Redenção. Assim na Virgem, a figura da “mulher” é reabilitada e a maternidade assume a tarefa de difundir entre os homens a vida nova em Cristo.
Em vista dessa missão, à Mãe é pedido o sacrifício, para Ela muito doloroso, de aceitar a morte do Seu Unigênito. A expressão de Jesus: “Mulher, eis aí o teu filho”, permite a Maria intuir a nova relação materna que prolongaria e ampliaria a precedente. O seu “sim” a esse projeto constitui, portanto, um assentimento ao sacrifício de Cristo, que Ela aceita generosamente na adesão à vontade divina. Ainda que, no desígnio de Deus, a maternidade de Maria se destinasse, desde o início, a estender-se à humanidade inteira, só no Calvário, em virtude do sacrifício de Cristo, Ela se manifesta na sua dimensão universal.
As palavras de Jesus: “Eis aí o teu filho”, realizam aquilo que exprimem, constituindo Maria: Mãe de João e de todos os discípulos destinados a receber o dom da Graça divina.
Na Cruz, Jesus não proclamou de modo formal a maternidade universal de Maria, mas instaurou uma concreta relação materna entre Ela e o discípulo predileto. Nesta escolha do Senhor, pode-se divisar a preocupação de que essa maternidade, não seja interpretada em sentido vago, mas indique a intensa e pessoal relação de Maria com cada um dos cristãos.
Possa cada um de nós, precisamente devido a essa concretitude da maternidade universal de Maria, reconhecer plenamente n’Ela a própria Mãe, entregando-se com confiança ao Seu amor materno.
Papa João Paulo II