Quando o Amor se deixa atravessar pela lança do pecado
Nesta aula, concluímos o ciclo dos cinco mistérios dolorosos, acompanhando Nosso Senhor Jesus Cristo no momento mais solene e silencioso da história da humanidade: Sua crucifixão e morte na cruz.
O escândalo da Cruz — que parecia ser derrota — é revelado como a vitória do Amor obediente, que se oferece até o último suspiro. Não há nada de teatral nesta cena. O que se passa no Calvário é real, brutal, eterno.
Os Evangelhos narram com precisão este momento, não como um mero relato de execução, mas como o ato final do sacrifício redentor. Em João 19,30, lemos as palavras que ecoam através dos séculos:
“Tudo está consumado.”
Estas não são palavras de desespero, mas de cumprimento. Não há derrota.
Há entrega. Obediência. Vitória por meio da humilhação.
Cristo é pregado à cruz — não pela força dos cravos, mas pela força do amor. Ele mesmo havia dito:
“Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente.” (Jo 10,18)
Nesta aula, meditamos com profundidade teológica e espiritual:
O sentido redentor da morte de cruz (cf. Fl 2,8)
As sete últimas palavras de Jesus, que revelam não apenas sua dor, mas sua realeza, sua misericórdia, sua confiança no Pai
A rasgadura do véu do Templo (Mt 27,51), como sinal de que o acesso a Deus está agora aberto
A entrega do espírito: o sopro final de quem veio para renovar a criação
A morte de Jesus não é acidental.
Ele morre na hora da oferenda do cordeiro pascal no Templo. Ele é o novo Cordeiro, sem mancha, imolado fora dos muros, como os antigos sacrifícios pelo pecado.
Ele é sacerdote e vítima.
Altar e cordeiro.
A Tradição da Igreja ensina que na cruz, Cristo oferece o único e definitivo sacrifício, que se torna presente em cada Missa. Por isso, a cruz não é só um episódio histórico — é uma realidade sacramental.
Mas a cruz também nos interpela pessoalmente.
Porque o que o matou não foram os pregos romanos, mas o meu pecado e o seu.
Ele morreu por mim. Com o meu nome nos lábios do silêncio.
Cada vez que duvidamos do amor de Deus, a cruz nos responde.
Cada vez que pensamos que não somos dignos de perdão, a cruz nos responde.
Cada vez que achamos que Deus é indiferente, a cruz nos responde.
A cruz é a resposta definitiva de Deus para o mundo.
Não uma resposta racional, mas uma resposta encarnada.
Cristo morre em abandono. Mas é ali, no ápice da dor, que Ele mais perfeitamente ama.
Ele morre de braços abertos — porque deseja abraçar a todos.
Esta última aula nos leva a uma conclusão não lógica, mas contemplativa:
Não basta entender a cruz.
É preciso ajoelhar-se diante dela.
É preciso amá-la.
E, sobretudo, tomá-la como nossa.
O mundo oferece glória passageira.
Cristo oferece a cruz que salva.
“Tudo está consumado.”
Não falta nada ao Amor.
Agora, falta apenas a nossa resposta.