A Agonia no Horto: o início do mistério da Paixão
Primeira meditação do curso “Os Mistérios da Paixão”
Chegamos aqui para iniciar juntos um caminho de profundidade espiritual, contemplando, ao longo desta série, os cinco mistérios da Paixão de Nosso Senhor que rezamos no Terço, conhecidos como os Mistérios Dolorosos. Esta não é apenas uma sequência de aulas — é um convite: mergulhar no coração da Redenção, passo a passo, mistério por mistério, do Horto das Oliveiras até a Cruz.
Iniciamos rezando, pedindo o auxílio do Espírito Santo, que inspire não apenas as palavras, mas que abra o coração de quem escuta. Pedimos também o auxílio da Virgem das Dores, para que ela nos acompanhe neste caminho.
A Paixão de Jesus tem seu ponto de partida imediatamente após a Última Ceia. Depois de partir o pão com os apóstolos no Cenáculo — ainda em Jerusalém —, Jesus se retira com eles até o Jardim do Getsêmani, um local que Ele já costumava frequentar para oração. Mas agora seria a última vez.
O caminho do Cenáculo ao Jardim é de aproximadamente 1,5 km, e durante esse percurso, segundo o Evangelho de São João, Jesus conversa longamente com os discípulos. É ali que Ele fala da vinda do Espírito Santo, da união com o Pai, da videira verdadeira. Essas palavras ganham um peso tremendo: são as últimas antes do sofrimento começar.
📖 Mateus 26,36-38
Ao chegar ao Getsêmani, Jesus diz aos discípulos:
“Sentai-vos aqui, enquanto vou ali orar.”
“Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo.”
Ele se afasta com os três mais próximos: Pedro, Tiago e João — os mesmos que estiveram com Ele na Transfiguração. Agora, eles verão o oposto da glória: a angústia extrema do Salvador.
Jesus é 100% Deus e 100% homem. Tudo o que Ele sofre, Ele sofre em liberdade, por amor. Ele permite que sobre Ele pese o fardo dos nossos pecados. Não bastava assumir a natureza humana: Ele quis assumir a culpa humana.
“No Éden, Adão pecou. No Getsêmani, Cristo tomou sobre si os pecados da humanidade.”
(Cardeal Fulton Sheen)
Esse paralelo entre os dois jardins — o da queda e o da redenção — é essencial. No Éden, o homem quis ser como Deus. No Getsêmani, o Deus feito homem abaixa-se até o chão para fazer a vontade do Pai.
Por ser Deus, Jesus contemplou todos os pecados já cometidos e ainda por cometer. Desde Caim até o último homem que viverá.
“Ele viu a traição de Judas.
Ele viu os sacerdotes infiéis.
Ele viu os escândalos, os crimes, as heresias, os adultérios, a indiferença e a frieza de tantos.”
E o mais impactante: Ele viu o seu pecado. E o meu.
“Jesus não apenas sabia que você pecaria — Ele sentiu o peso disso como se fosse seu.”
Mesmo diante de tamanha angústia, Jesus procura consolo. Vai até os três apóstolos… e os encontra dormindo. Quantas vezes também nós dormimos espiritualmente enquanto o Senhor nos espera!
Aquela cena no Horto não é um espetáculo distante: ela se repete hoje, na nossa negligência, na banalização da Eucaristia, na preguiça da oração. Somos os discípulos adormecidos.
Mas também podemos ser aqueles que hoje consolam o Coração de Jesus.
A devoção ao Sagrado Coração nos chama a isso: vigiar com Ele, especialmente no sacrário.
O Evangelho de Lucas relata que Jesus suou sangue. A medicina comprova que isso é possível em casos extremos de sofrimento psíquico. Mas aqui, mais do que uma comprovação científica, temos um dado espiritual imenso: Jesus viveu a dor mais profunda da alma humana.
Ele conhece o que é rezar sem resposta.
Ele conhece o que é sentir-se abandonado.
Ele conhece o que é a depressão, a solidão, a sensação de inutilidade.
Ele não fugiu de nenhuma dor. Assumiu todas. Redimiu todas.
Segundo o Cardeal Fulton Sheen, uma das tentações que Jesus sofre ali é o pensamento de que sua Paixão será inútil.
Ele viu quantos rejeitariam seu sacrifício.
Ele viu corações frios, indiferentes, ingratos.
E sentiu a dor de quem ama, mas sabe que não será amado.
Mesmo assim, Jesus se levanta. Diz:
“A hora chegou.”
“O que não foi assumido, não foi redimido.”
(Princípio da teologia da Encarnação)
Jesus assume o pecado para redimir o pecado.
Assume a dor para santificar a dor.
Assume o medo para nos ensinar a obedecer mesmo com medo.
O que tudo isso nos ensina? Que a santidade não é sentir prazer na fé.
Santidade é fazer a vontade de Deus mesmo quando ela custa.
Não seremos fiéis a Deus se não vigiarmos.
Não suportaremos a cruz se não formos amigos de Jesus na oração.
Não pense que Jesus morreu por uma “massa anônima” chamada humanidade.
Ele morreu por você. Viu o seu pecado, e mesmo assim, quis salvar você.
A misericórdia d’Ele é pessoal. É consciente. É dolorosa. É amor.
Esse é o primeiro passo do nosso caminho nos Mistérios da Paixão.
Aqui não se inicia apenas uma série de vídeos. Inicia-se a contemplação da entrega mais radical e amorosa que já existiu.
Que o seu coração permaneça acordado. Que a sua oração comece a consolar o Coração que suou sangue por você.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.