O Catecismo da Igreja Católica, no número 11, define seu propósito como sendo a exposição “orgânica e sistemática dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral”. Isso nos indica que a doutrina não é um amontoado de normas ou ideias isoladas, mas um corpo vivo, que integra fé, moral, sacramentos e oração — os quatro pilares da catequese.
A doutrina da Igreja é, portanto, o ensino fiel da Revelação divina, tal como foi confiada por Cristo aos Apóstolos e transmitida ao longo dos séculos sob a assistência do Espírito Santo.
Ao falarmos de doutrina, precisamos compreender que ela se apoia num tripé indissociável:
Sagrada Escritura: a Palavra de Deus escrita, inspirada e inerrante;
Sagrada Tradição: a transmissão viva do ensinamento apostólico;
Magistério da Igreja: a autoridade dos sucessores dos Apóstolos para ensinar com fidelidade.
Essas três fontes não competem entre si, mas se iluminam mutuamente. A Escritura nasceu da Tradição viva da Igreja; a Tradição guarda fielmente a Palavra antes mesmo de ela ser escrita; o Magistério discerne e garante a fidelidade da doutrina ao que foi revelado.
Jesus não escreveu nenhum livro. Sabia escrever — como vemos no episódio da mulher adúltera —, mas não deixou registros diretos. Por quê? Porque Ele quis confiar a Revelação à Igreja viva, conduzida pelo Espírito Santo.
A formação dos Apóstolos, a transmissão oral do ensinamento, a escolha de sucessores (os bispos) e o envio missionário — tudo isso mostra que a doutrina cristã é eclesial por natureza. Não é cada um interpretando por si, mas a comunhão fiel àquilo que os Apóstolos receberam e nos transmitiram.
Chamamos “depósito da fé” tudo aquilo que Jesus revelou e que os Apóstolos ensinaram. Esse depósito foi concluído com a morte do último Apóstolo, mas não foi exaurido. Ao longo dos séculos, a Igreja — guiada pelo Espírito Santo — aprofundou sua compreensão das verdades reveladas, sem inventar novas doutrinas, mas esclarecendo com maior precisão o que sempre foi crido.
As chamadas revelações privadas (como aparições marianas) não acrescentam nada ao depósito da fé. Elas podem edificar e incentivar a fé, mas não são de obrigação universal. Já a doutrina revelada — vinda da Tradição, da Escritura e garantida pelo Magistério — é obrigatória e inegociável.
Ao longo da história, muitos catecismos foram escritos: o Didaché, já no primeiro século; o Catecismo de Trento, no contexto da Reforma protestante; o Catecismo de São Pio X; e, mais recentemente, o Catecismo da Igreja Católica, publicado após o Concílio Vaticano II.
Todos esses documentos expressam a mesma fé, adaptada às necessidades de cada época. Não há contradição entre eles, mas uma unidade orgânica, um desenvolvimento harmônico guiado pela Tradição viva.
O Catecismo atual, aprovado por São João Paulo II e coordenado por Joseph Ratzinger (o futuro Bento XVI), é referência segura para todo catequista. É dele que devemos partir para ensinar, formar e esclarecer.
Vivemos tempos em que se diz: “o importante é amar”, como se a doutrina fosse contrária ao amor. Nada mais equivocado. Amar exige conhecer. Como posso amar a Deus se não sei quem Ele é? Como posso obedecê-lo se não sei o que Ele ensina?
A doutrina forma raízes, firma os pés na rocha. Quem não conhece a fé, não persevera. Quem não estuda, repete chavões. O catequista que não ama a doutrina está mutilado em sua missão.
Não basta dizer: “faço por amor”. Amor que não estuda, que não se sacrifica, que não se forma — não é amor verdadeiro. O catequista precisa ser discípulo antes de ser mestre.
A missão do catequista é fazer ecoar a voz da Igreja. Para isso, deve conhecer a doutrina, estudá-la, rezá-la, amá-la. A catequese não é lugar de invenções pessoais, nem de opiniões subjetivas.
“Catequese sem doutrina é como uma lâmpada sem luz: não ilumina, apenas ocupa espaço.”
O catequista adapta, sim, a linguagem; busca meios de tornar acessível a fé. Mas o conteúdo não pode ser diluído. A adaptação existe para servir à verdade, não para substituí-la.
A doutrina da Igreja não é um fim em si. Ela é um caminho. Um mapa seguro que nos conduz ao Céu. Ela é exigente porque é verdadeira. Mas sua exigência não oprime — liberta.
É preciso parar de repetir que “a doutrina afasta”. O erro, sim, afasta. O sentimentalismo confunde. A verdade atrai, mesmo quando fere. Porque só a verdade salva.
o Catequista como Guardião da Verdade
Esta aula é um convite a um novo olhar sobre a missão catequética. Ser catequista é mais do que preparar crianças para a Primeira Comunhão. É ser ponte entre o Céu e a terra, é ser voz da Igreja, é ser servo da Verdade.
Por isso:
Estude o Catecismo.
Conheça a doutrina.
Porque ela não é opinião humana, mas eco da Palavra de Deus. Quem comunica a doutrina comunica o próprio Cristo.
Que o Espírito Santo nos conceda fidelidade, e que Maria Santíssima, modelo de perfeita docilidade à Palavra, nos guie neste caminho. Nossa missão não é produzir seguidores, mas conduzir almas à eternidade.