Dando sequência ao nosso curso Catequistas segundo o Coração da Igreja, hoje vamos conhecer a vida e os ensinamentos de um dos maiores Doutores da Igreja: Santo Agostinho de Hipona.
A história deste grande santo é marcada por uma das conversões mais bonitas da história cristã. Sua vida é um testemunho de que, por maior que seja o afastamento de Deus, a graça sempre pode transformar um coração.
Antes de mergulharmos em sua biografia, invoquemos o auxílio do Espírito Santo e da Virgem Maria, para que possamos aprender com Santo Agostinho a buscar a verdade e a viver plenamente o Evangelho.
Santo Agostinho nasceu na cidade de Tagaste, na atual Argélia, então parte do Império Romano. Era filho de Santa Mônica, mulher de profunda fé e perseverança, e de Patrício, homem vaidoso e mundano, que se converteu apenas no fim da vida.
Desde cedo, Agostinho revelou inteligência brilhante e desejo pela verdade. Estudou gramática e retórica, esta última sendo uma profissão prestigiosa e bem remunerada na época, pois treinava a arte de convencer e defender ideias.
Mas, ao mesmo tempo em que se destacava nos estudos, entregava-se aos prazeres mundanos. Aos 17 anos teve um filho, Adeodato, fruto de uma relação fora do matrimônio. Era talentoso e ambicioso, mas buscava a satisfação nas riquezas, no prestígio e nas paixões.
A inquietude intelectual levou Agostinho a entrar em contato com a seita dos maniqueus, que ensinava a existência de dois princípios opostos — o bem e o mal. Ele acreditava que ali encontraria respostas para suas grandes questões, especialmente sobre a origem do mal.
Durante nove anos esperou encontrar um sábio, Fausto, que prometia esclarecer tudo. Porém, quando finalmente o conheceu, percebeu que não havia substância nas respostas e ficou frustrado.
A busca prosseguiu. Ele se tornou professor de retórica, mudou-se para Roma e, depois, para Milão, onde conheceu Santo Ambrósio. Em Ambrósio, encontrou pela primeira vez um cristianismo inteligente, sólido e vivido — não apenas retórico. Embora ainda não convertido, começou a admirar e respeitar a fé cristã.
O contato com o neoplatonismo também o aproximou de conceitos como a existência de um Deus único e eterno, e a imortalidade da alma, preparando seu coração para a fé.
Enquanto Agostinho buscava a verdade, Santa Mônica perseverava na oração. Durante 40 anos, pediu incessantemente a Deus pela conversão do filho. A célebre frase de um bispo a ela — “É impossível que se perca o filho de tantas lágrimas” — se cumpriria.
O momento decisivo veio em 386. Em profunda inquietação, Agostinho ouviu uma voz infantil dizendo: “Toma e lê” (Tolle lege). Pegou a Bíblia e abriu em Romanos 13,13-14:
“Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia; nada de orgias e bebedeiras, nada de desonestidades e libertinagens, nada de contendas e ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne.”
Essas palavras atingiram o coração de Agostinho com força. Chorou e decidiu abandonar definitivamente sua vida antiga.
Retirou-se para um período de oração e estudo com alguns amigos, seu filho Adeodato e Santa Mônica. Ali, amadureceu na fé e preparou-se para receber o batismo.
Na Páscoa de 387, em Milão, Santo Ambrósio batizou Agostinho e Adeodato. Pouco depois, Santa Mônica faleceu, feliz por ver realizado o grande sonho de sua vida: a conversão do filho.
De volta à África, Agostinho viveu como leigo dedicado à oração e ao estudo, desejando fundar um mosteiro. Em 391, foi ordenado sacerdote e, em 396, tornou-se bispo de Hipona, cargo que exerceu até sua morte.
Como bispo, combateu diversas heresias, como o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. Escreveu mais de 200 obras, incluindo Confissões, A Cidade de Deus, A Trindade e tratados sobre a Sagrada Escritura.
A vida de Santo Agostinho nos oferece valiosos ensinamentos para o nosso serviço:
Reconhecer nossa miséria e depender da graça
– Sem a graça, nada podemos fazer. O catequista deve ser humilde e misericordioso, consciente de que a conversão é obra de Deus.
Formar-se intelectualmente
– “Compreender para crer e crer para compreender.” Quem ensina a fé precisa estudá-la profundamente.
Ter paciência e adaptar-se
– Santa Mônica esperou 40 anos. O catequista semeia, mas é Deus quem dá o crescimento.
Ser servo da Palavra, não dono dela
– A catequese deve ser fiel à doutrina e à Tradição da Igreja, sem adaptações que deturpem a verdade.
Amar a verdade mais do que as opiniões
– A missão é conduzir as pessoas a Cristo, não agradar ao mundo. A verdade liberta, mesmo quando exige renúncia.
Santo Agostinho foi um homem que experimentou as ilusões do mundo e encontrou a verdadeira alegria apenas em Deus. Sua vida é um testemunho de que ninguém está fora do alcance da graça.
Que sua história inspire todos os catequistas a perseverar na oração, estudar com amor, ensinar com fidelidade e conduzir cada alma ao encontro pessoal com Jesus Cristo.
“Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti.”
(Santo Agostinho, Confissões I,1)