Dando continuidade ao nosso curso "Catequistas segundo o Coração da Igreja", nos debruçamos mais uma vez sobre a realidade profunda e insubstituível da oração. Nesta aula, trataremos com mais calma sobre como rezar, o que pedir em nossas orações, e exploraremos com especial atenção o método de oração proposto por Santa Teresa d'Ávila.
Santa Teresa de Jesus (ou Santa Teresa d'Ávila), fundadora das Carmelitas Descalças, foi uma mulher de profunda vida espiritual. Ainda que tenha alcançado altos graus de contemplação e experiências místicas extraordinárias, seu ensino sobre a oração começa no mais básico: o desejo sincero de santidade e a disposição interior para fazer a vontade de Deus.
Quando as monjas de seu convento lhe pediram que escrevesse um guia sobre a vida espiritual, Teresa redigiu o "Caminho de Perfeição". Para surpresa de algumas, ela não tratou de levitações, êxtases ou favores sobrenaturais. Sua primeira preocupação foi ensinar a viver as virtudes cristãs mais simples: a caridade, a humildade, o amor sincero entre irmãs. Antes de subir ao céu, é preciso colocar os pés no chão.
Ela aconselha, por exemplo, que a religiosa não procure apenas a companhia daquelas irmãs com quem tem mais afinidade, mas busque estar com aquelas de convivência mais difícil. Isso revela o espírito cristão que deve preceder toda oração: a busca da santidade concreta, cotidiana, encarnada.
Sem esse desejo sincero de conversão, nossas orações podem se tornar frias, mecânicas ou mesmo manipuladoras. Podemos correr o risco de tentar dobrar Deus à nossa vontade, quando deveríamos, ao contrário, nos dobrar à vontade d'Ele.
É a partir desse espírito que Santa Teresa propõe um método de oração que ela chama de "oração de recolhimento". Vamos resumir os passos essenciais dessa prática:
Colocar-se na presença de Deus: em silêncio, com os sentidos recolhidos, reconhecendo que Deus habita no centro da alma. Pode-se usar a imaginação para visualizar Jesus diante de si, não como produção da presença, mas como auxílio para entrar em diálogo.
Entrega sincera: apresentar-se a Deus com verdade. Se o coração está inquieto, cansado ou agitado, isso deve ser colocado na oração. Nada de fingimentos ou frases prontas: "Senhor, eu estou cansado, mas eu quero estar Contigo." A oração precisa partir da realidade interior.
Ato de humildade e adoração: reconhecer a própria pequenez, a miséria, e louvar a Deus por sua grandeza e misericórdia. "Senhor, Vós sois tudo, e eu não sou nada."
Leitura espiritual breve: pode-se usar os Evangelhos ou obras como a Imitação de Cristo. A leitura não é para estudo ou curiosidade, mas para alimentar a meditação. Lê-se até que algo toque o coração.
Meditação: refletir sobre aquilo que mais chamou a atenção. Por exemplo, ao ler a parábola do filho pródigo, pode-se meditar sobre o momento em que o filho pede a herança, rejeitando o pai. Essa imagem se torna uma "cena interior" sobre a qual se reflete.
Afetos e colóquios: da meditação brotam afetos: sentimentos, desejos, pedidos. É o momento de abrir o coração e conversar com Deus: "Senhor, quantas vezes fui como esse filho, preferindo o pecado ao Teu amor. Tem misericórdia de mim."
Ação de graças: agradecer ao Senhor pela oração, pelo amor, pela Palavra que tocou o coração.
Propósito concreto: firmar uma decisão prática de conversão. Pode ser algo simples: perdoar alguém, não murmurar, rezar melhor no dia seguinte. A oração deve produzir frutos.
Esse método é próximo da Lectio Divina, mas tem um sabor teresiano, com foco no afeto e na verdade interior. Quanto ao tempo, Santa Teresa indicava uma hora de manhã e uma hora à noite às suas irmãs, mas para nós, que vivemos no mundo, 20 a 30 minutos bem vividos já é um excelente início.
Santa Teresa também apresenta o Pai Nosso como modelo de oração cristã. Jesus nos deu essa oração como um roteiro equilibrado, que nos ensina a pedir primeiro as coisas do alto: a santidade, a vontade de Deus, o reino dos céus. Dos sete pedidos da oração, apenas um está ligado diretamente ao sustento material: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje."
A cada frase do Pai Nosso, somos guiados a pedir o que realmente importa:
Pai Nosso que estais no Céu: Começamos nos dirigindo a Deus como Pai, em tom de intimidade, mas também recordando que Ele está no Céu e para lá devemos apontar.
Santificado seja o Vosso nome: Pedimos que nossa vida glorifique o nome de Deus.
Venha a nós o Vosso Reino: Desejamos que Deus reine em nossas escolhas, afetos, família e vida inteira.
Seja feita a Vossa vontade: É o pedido da santidade, de conformação à vontade divina.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje: Pedimos o sustento material e espiritual, a Eucaristia e a graça.
Perdoai as nossas ofensas...: Imploramos a misericórdia de Deus, com o firme propósito de também perdoar, nos comprometendo assim em sermos também Misericórdia.
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal: Reconhecemos nossas fraquezas e pedimos força contra o mal.
O Pai Nosso, portanto, ensina que a oração não deve ser centrada no mundo, mas voltada para o Céu. Seis dos sete pedidos são espirituais. Isso revela qual deve ser o centro da nossa vida de oração.
Peçamos, pois, todos os dias, a conversão do coração, a santidade, a força para amar a Deus e ao próximo, a coragem para perdoar, a vigilância contra as tentações, e a esperança firme no céu. E, sim, apresentemos também nossas necessidades materiais, mas com o coração voltado para a vida eterna.
Santa Teresa nos ensina que a oração verdadeira nasce de um coração humilde e sincero. Que possamos colocar isso em prática e assim crescer cada dia mais como catequistas segundo o coração da Igreja.